sábado, 10 de dezembro de 2011

Grávida e sem dentes!


Quando postei um comentário sobre sonhos com perda de dentes (o primeiro foi em agosto/2009!), não imaginei que isso repercutiria tanto, meses e meses com pessoas escrevendo sobre o assunto. Então, só por isso, volto ao tema. Desta vez, porque o e-mail veio de uma mulher grávida e, ao contrário da maioria que me escreve, ela me deu um retorno, depois de muito tempo. O primeiro e-mail dela veio em setembro, eu respondi em outubro e só agora, em dezembro, ela me deu um feed back. E publico nossa troca de correspondência porque o tema sempre pode servir de referência para alguém que se veja na mesma situação. E vai somente com o sonho, claro, sem qualquer dado que possa identificá-la. Até porque não tenho desta pessoa qualquer referência: nem idade, nem circunstâncias de vida, nada.

A SONHADORA

Esta noite eu tive um sonho que me deixou muito intrigada.
Não sei se você poderia ou saberia interpretá-lo mas sei que é um sonho muito comum.
Sonhei que eu perdia meus dois dentes da frente, porém depois eu me via com implantes de dente no mesmo lugar porém de um material parecido com gesso. Logo em seguida, eles caiam e eu sempre os colocava de volta. Sei que as vezes sonhar com dente pode ser morte de alguém próximo mas tem outros significados também. Estou no meio de uma mudança grande na minha vida, grávida e penso que isso pode ser o motivo desse sonho, pois ando um pouco aflita pedindo que Deus me mostre o caminho. Meu namorado também estava no sonho, acho que me ajudando a por os dentes novos.
Se tiver uma resposta pra isso, estarei aguardando ansiosamente.

Grata,

MINHA RESPOSTA

Esperar um filho é a mudança mais significativa na vida de uma mulher. Não apenas pelo fato de gerar uma nova vida, que por si só já é um compromisso grandioso com a vida, mas também pelo que nos traz de responsabilidades e de mudança de perspectiva. Por mais estrutura que tenhamos - emocional, familiar e financeira - a chegada de um filho causa uma revolução. A começar pelo nosso corpo, que muda e nos assusta, especialmente se é a primeira gravidez. E vivemos também a incerteza em relação a tudo: como será essa criança, como vamos criá-la, que ajuda teremos, o quanto ela vai nos ocupar ao longo de toda a vida... são muitas questões e nenhuma tem resposta, pois só vamos saber disso vivendo a experiência.

Então, seu sonho é compreensível, pois revela o quanto isso está mexendo com você, mudando aquilo que é você. A perda dos dentes, se você leu meu post, fala exatamente da mudança de estrutura, e o que mostra a sua dificuldade de viver isso é que você tenta colocar implantes, mas os coloca de gesso. Ou seja, algo que não se sustenta, que não vai durar. Talvez você esteja com dificuldade de aceitar ou lidar com tudo o que está acontecendo e daí, no sonho, a sua tentativa de consertar uma situação que não há como reverter... pelo menos não com gesso. Nao sei se você entende o que quero dizer... a gravidez é, sim, assustadora por tudo aquilo que eu disse acima. Cada mulher lida com isso a seu jeito. Nao sei da sua condição, não sei com o que você conta, embora no sonho seu namorado tente ajudá-la, mas ele também ajuda de uma maneira quase fantasiosa.

Não pense em morte. Isso não está associado diretamente à perda de dentes. No seu caso, me parece muito mais a dificuldade já mencionada. E eu lhe diria: por mais complicada que sua situação possa ser nesse momento, olhe sua gravidez como uma manifestação da vida na sua forma mais autêntica. Aceite as mudanças no seu corpo, na sua rotina, na sua condição como um movimento da vida, como mais um desdobramento do ser mulher. Olhe seu ventre com amor e verá que essas inquietações vão se atenuar e que encontrará o caminho de paz que tem pedido a Deus.
Boa sorte e muita luz para o seu novo caminhar.
Vera

RETORNO DA SONHADORA
Eu já havia lido esse seu email faz tempo mas acho que nunca respondi.
Como eu encontrei ele aqui de novo, eu resolvi responder e perguntar de novo. (risos)
Sobre a gravidez, você acertou 100%. Eu realmente não aceitei muito bem toda a mudança e confesso que ainda estou um pouco abalada com tudo isso. Porém, meu bebê, ao mesmo tempo, foi a melhor coisa que me aconteceu! Apesar de toda a minha resistência a mudanças e a nova vida (de mãe e esposa), eu sou apaixonada por essa criaturinha e ele faz isso tudo valer a pena! :)
Muito obrigada pelo seu email. Foi muito importante pra mim na época, pois eu consegui ver tudo que estava acontecendo comigo.

domingo, 24 de julho de 2011

Levei o dia, hoje, reunindo material sobre sonhos. Os posts desse blog e os inúmeros e-mails que recebo de pessoas que não conheço, mas invariavelmente inquietas com os sonhos que têm. Encontrei então, no meio dessas preciosidades, um e-mail que mandei para o meu grupo de sonhos, no fim do ano, agradecida pela oportunidade de nos revelarmos umas às outras. E reproduzo aqui esse momento de gratidão.

Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo.
Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma.
Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.

Hermann Hesse

Adoráveis sonhadoras, mulheres queridas do meu cenário.
A primeira vez que li esse pensamento do Hesse foi em um consultório de acupuntura, em Brasília, e desde então ele me causa impacto, porque resume em poucas palavras a jornada da alma que temos nos proposto fazer.
Num primeiro momento, há uma certa sensação de desamparo ao deparar com essa verdade de que ninguém nos pode dar o que já não existe em nós. É da nossa natureza esperar, sempre, que o outro nos dê, que o outro nos preencha, que o outro nos entenda, que o outro nos gratifique.
Temos a ilusão de que as imagens da nossa vida perderam a cor porque o outro tirou de nossas mãos os pincéis e chutou para longe nossa paleta de cores. É da nossa carência (ou do nosso egoísmo) nos colocarmos na parede como uma moldura a ser preenchida pelo artista que enxergamos no outro. E nessa espera equivocada, deixamos de criar nossas telas mais originais, aquelas que se renovam nos desenhos que a alma cria.
Então, quando me encontrei com esse pensamento do Hesse, pensei nas pessoas significativas que passaram pela minha vida e busquei nelas não um fim em si mesmas, não um produto acabado, definitivo, e sim aquele impulso, aquela chave de que fala o pensador. E vocês chegaram no meu mundo para confirmar que é assim. Temos sido, ao longo dos nossos encontros, essa oportunidade umas para as outras. Já entendemos que a jornada até a alma só pode ser empreendida por nós mesmas, em viagens de beleza e contemplação, ou em mergulhos tenebrosos e convulsionados.
Temos nos descoberto assim, temos nos empurrado umas às outras e temos voltado dos nossos centros mais sábias, mais bonitas, mais corajosas, mais grandes, se me permitem o erro de linguagem. Temos, sim, nos ajudado a tornar mais visível nosso próprio mundo e sou muito grata por permitirem que façamos juntas essa descoberta.
E isso é tudo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eu sou as mulheres dos meus sonhos


De repente, mulheres muito esquisitas começaram a aparecer nos meus sonhos. Elas me parecem familiares, como se fossem minhas tias ou como se fossem situações, lugares, luzes que eu conheço, que estão na minha memória. Aliás, parece muito uma coisa de memória, como uma cena de filme, como uma pintura em um quadro, como um trecho de música. E por me intrigarem é que me aprofundei sobre essas mulheres que certamente me dizem respeito, que certamente me formaram e me fazem a mulher que sou hoje. Em um primeiro momento, houve a rejeição do ego (natural quando lida com coisas que não entende), pois são imagens meio caricaturais, meio exageradas, mas talvez elas se apresentem assim para que eu as veja, para que eu me detenha um tanto sobre esta aparição. Para que eu não as ignore mais.

Há tempo, muito tempo venho trabalhando esse feminino em mim. Por vezes, tão tímido. Por outras, tão agressivo e masculino, duro e desconfiado, sem flexibilidade. Em tantos outros momentos, um feminino desprovido de feminino, sem batom, sem salto alto, sem uma saia justa, sem uma cara que revele a sombra mais guardada da mulher ousada, despudorada, a mulher de ninguém, ou a mulher de todos. E penso, então, nas mulheres que me formaram, a começar por minha mãe, com seu feminino tão contido, tão possessivo, tão calado, tão insatisfeito, tão desacreditado. Mas também tão bravo, atravessando portas sem qualquer mapa, sem nenhuma certeza do que estaria ali atrás ou quem ela encontraria. Aceitou a aliança que meu pai pôs no seu dedo, três meses depois de tê-lo conhecido, e se largou da família. Família grande, de 11 irmãos, que se criou sem pai, porque meu avô morreu quando minha mãe tinha 3 anos de idade e minha avó nem tinha chegado aos 40. Minha mãe se casou aos 18 anos, deixou o Nordeste onde nasceu e veio para este lado do mundo ser a encarnação da Maria de Milton Nascimento. Teve (e tem) fé na vida e se algo ela me ensinou, se algo ela cravou em mim foi esta fé que hoje me sustenta. Na medida dela, dona Noêmia sabe das coisas e algumas eu aprendi.

Começou com ela, mas havia outras mulheres na minha infância. Havia minha tia Nair, que ainda está viva, e que tinha mais cara de ser minha mãe do que a minha mãe mesmo. Ela adorava cantar e ficávamos ouvindo discos nas tardes de sábado, naquela casa de muitos quartos da Rua João Alfredo. Eu cantava todas as músicas do Altemar Dutra e de Cascatinha e Inhana, uma dupla que cantava India e cuja voz tocava meu coração. E assim eu exercitava minha vocação para cantora, que um dia até me valeu o primeiro lugar no concurso de calouros de uma festa junina, na AA Portuários. Cantei Sonhar Contigo, do Adilson Ramos, e cheguei em casa mostrando que tinha ganho uns trocados com o meu primeiro lugar. Minha carreira musical terminou aí.
Minha tia também adorava ouvir novelas e ler aqueles romances que vendiam na banca de jornal. Eu, desde cedo, já gostava de escrever. Escrevi uma novela, ou um conto, ou apenas uma história de amor, não lembro. Eu teria uns 9 pra 10 anos de idade e mostrei para minha tia, pois minha mãe não entenderia aquilo. Seria muito para o seu universo sobrecarregado de realidade. A tia achou aquilo o máximo e talvez tenha sido minha primeira leitora e o primeiro estímulo para eu continuar escrevendo até hoje. Minha tia usava um batom vermelho, tinha permanente nos cabelos e era uma sonhadora. É até hoje e a vida cobrou caro os sonhos que teve, mas ela deu conta do jeito que podia.

Tive professoras, também, que me moldaram. Tive uma que era uma peste, a dona Nidja, bonita, ruiva, pele da cor de leite, mas um demônio vermelho em figura de professora. Dava com a régua nos nossos dedos e na panturrilha, deixando a marca vermelha. Mas tive outras mestras que equilibraram esse universo. Tive a Marina, professora de Psicologia ou algo na área, que me deu 10 sobre a minha “leitura” de Adorável Mundo Novo, do Aldous Huxley. E tive também a Marialva, professora de Filosofia, que me aproximou ainda mais do pensar, do livre pensar e atiçou esse gosto que nunca perdi.

E o que dizer daquelas mulheres com quem caminhei (e caminho) de braços dados pelas ruelas e avenidas dessa jornada humana? Algumas amigas, que de tão queridas fazem parte de mim, respiram comigo, ganham por vezes as vestes de minhas mães; em outras, se inocentam como filhas e eu as amo todas. Algumas outras não ficaram como amigas, mas são inesquecíveis como lição, como desassossego que faz a gente caminhar, queira ou não. São tantas que chamei, tantas que me chamaram e lá fomos... Noêmia, com quem tudo começou, Nair, Helen, Gladys, Christina, Heloísa, Izildinha, Isaura, Ivani, Lu, Miriam (tantas Mirians!), Henia, Bajla, Helena (tantas Helenas), Rosa Maria (e outras Rosas) Maria Helena (tantas) Lourdes (a mãe espiritual) Walderez, Ondina Didina, Mãe Sigmin, Rosalina, Roseana, Terezas, bravas Terezas, Carol, Dani (as duas Corés da minha vida), Denises, Danusas (uma delas, a Leão e ela nem sabe!) Liane, Sonia, Verinha, Débora (as duas), Marília Mamá, Adrianas, Thais (as quatro), Patrícia, Bella, Dilzinha, Ionita, as Telmas, Nazareth, Regina (quantas Reginas desde a Altman!), Ester, Iarita, Vânia, Mercedes, Mercedes!, Perola, Wilma, Marcia (são três), Maria Cris, Nancy, Eidi, Tata, Lena, Leny Leila, Lílian, Lea (quanto a letra L me deu!), Mirella, Quel, Neli, Carmen, Marisa, Elis (a eterna) e outras que certamente a memória ainda vai trazer. Mulheres fortes, cada uma a seu jeito, colocando em minhas mãos tijolos preciosos para eu fazer minha construção. Não sei o que prevaleceu desse vento feminino, que ora soprava como brisa do mar, perfumada e úmida; ora soprava como tempestade que logo desaba, sem dar tempo de procurar abrigo. O que prevaleceu? Sabe-se lá! Com elas fiz (e faço) meu caleidoscópio.

Talvez o que eu venha fazendo, ao longo de seis décadas, é amalgamar essas (e tantas) outras mulheres em mim. Mas só agora isso fica mais claro, mais consciente. Chegou a hora de eu me olhar e ampliar a luz sobre elas. Não para vê-las como caricaturas, mas para exaltar esta essência que nem sempre combina com a embalagem, com a cartilha de estar nesse mundo em que a perfeição (seja lá o que isso for) nos é cobrada a cada suspirar.

E me pergunto o que aconteceu para me levar ao deserto de mim mesma e voltar dele com esse buquê de flores cultivadas e outras selvagens. E sei que a experiência marcante, mobilizadora e transformadora foi em Londres, com meu filho, este homem que certamente colocou a coluna mais bela (e autoral) dessa minha construção. Com ele tive que flexibilizar, tive que aprender isso. Aliás, acho que esta é a primeira lição da nossa natureza fêmea: flexibilizar, a partir do próprio corpo, quando ele se amolda para receber uma vida em formação.

E agora, com ele, fui ao limite que rompeu com velhas resistências e as experiências vividas certamente quebraram paredes que um dia foram intransponíveis. Por elas, entendo agora, atravessei para enxergar todas as mulheres em mim. Perdi o medo (e a censura) de me soltar das correntes – códigos, valores, regras, ordens, leis, opiniões, julgamentos – e, ao me colocar em movimento, abri a perspectiva. Como se eu tivesse nos olhos da alma uma grande angular. Ao ritualizar com ele minha adolescência, sendo ele meu xamã, minha criatura e, naquele momento, criador, transpus os umbrais de mim mesma. Ganhei pernas, ganhei ar e me lancei. Do lado de lá encontrei essas mulheres, essas Vera(s) que alinhavaram uma natureza, uma personalidade, uma raridade. Esta unicidade é que ainda não tinha sido glorificada em mim. Pelo contrário. Penso que ao longo da vida enxerguei muito mais o que me invalidava do que o que me valida. E o que me chancela é justamente essa natureza ímpar, sem nem passar pela minha cabeça o mérito ou o desmérito. Apenas a unicidade, a originalidade que cria o mistério do ser.
Assim sou.

domingo, 20 de março de 2011

De novo, o predador e dentes...


É curioso como certos conteúdos do inconsciente nos perseguem. Os sonhos que falam da perda de dentes continuam repercutindo nos e-mails que recebo. Depois de tanto tempo sem postar nada no blog - trocentas coisas aconteceram, tiraram meu tempo, atrasaram certas providências... mas não tiraram meu foco - escolhi um dos e-mails que chegaram. E escolhi esse porque se juntam duas coisas: dentes e predador. Claro que tudo o que respondo nada tem de conclusivo, até porque não sei quem escreve e poucos são os e-mails que contam um pouco do sonhador. Neste que coloco a seguir, pelo menos a sonhadora me conta a idade e um pequeno histórico. Embora as experiências sejam irrepassáveis, os símbolos se repetem nos sonhos e se clarificam segundo as circunstâncias que vivemos. Por isso, outros leitores poderão se ver nessas linhas. Aí vai o sonho da jovem desconhecida.

Vi o seu blog e achei seus textos completamente plausíveis e razoáveis, por isso estou recorrendo a sua ajuda. Tenho 19 anos, namoro há dois anos e meio, meus pais são separados, mas lido bem com isso. Tenho uma irmã menor. Faço faculdade e sou bastante atarefada, bem sucedida nas notas. Enfim, ontem à enoite tive um sonho.vou tentar contar o máximo de detalhes que me lembrar:

O sonho começava em um táxi, porém o taxista parecia embriagado e ele de alguma forma dirigia o táxi do banco de trás. Em algum momento ele passa a mão na minha perna em uma tentativa frustrada de algum envolvimento comigo. Isso me assustava muito, me deixou com muito medo e eu falava pra ele só dirigir rápido pra me levar ao meu destino (a casa de meu namorado, era madrugada). Depois o carro dele quebra e nós dois ficamos competindo por um novo táxi numa rua escura. A próxima parte do sonho eu estava no banheiro da casa do meu namorado (ESTA FOI A PARTE QUE ME DEIXOU MAIS ENCUCADA) e vejo que para o lado de fora de minha boca se forma uma espécie de gengiva roxa que dentro carregava um dente (daqueles que substituíriam algum outro que viria a cair), essa parte roxa se solta de minha boca, e inúmeros dentes começam a cair, o primeiro que caiu me deu uma sensação boa, mas quando os outros começaram a cair eu fico desesperada. Nisso eu ligo ao meu namorado e conto aquilo. Porém os dentes da frente permanecem intactos, se eu desse um sorriso não daria para reparar a perda dos inúmeros dentes da parte traseira da boca. Depois disso eu estou em um campeonato de um esporte que não existe, que eu jogo e meu namorado também (e eu sou péssima no esporte. Ao fim do jogo vejo ele e uma conhecida rindo e conversando e eu o questiono sobre isso, e ele não responde e fica na defensiva, o que me deixa puta e fazendo birra.



Olá, sonhadora!

Seria tão bom se eu soubesse o que dizem os sonhos! Não sabemos... os sonhos apenas nos dão pistas e a primeira delas é inserir os sonhos na nossa realidade de vida, no nosso momento presente, porque os sonhos nos falam de conflitos que estamos vivendo, ainda que não conscientemente. E esse talvez seja o maior problema para o sonhador identificar: QUAL É O CONFLITO, pois aparentemente sempre estamos dando conta das nossas vidas. E estamos. Mas de que jeito? Quais são nossas expectativas em relação às nossas relações (namorado, irmãos, pais, professores, amigos) e o que, sobre elas, a gente ainda não se questionou?
Você está com 19 anos, acabou de passar a maioridade legal, e está caminhando para maioridade emocional e biológica, que acontece aos 21 anos. Claro que a emocional não é uma coisa assim matemática... tanta gente que já passou dos 40, 50 anos e continua imatura emocionalmente.
Mas considerando seus 19 anos, a faculdade e o namoro de dois anos, certamente você está vivendo um momento atribulado de vida. Seja por aquela maioridade que mencionei, seja porque a faculdade nos coloca com um outro norte pela frente. A profissão (ou a formação que nos leva a ela) levanta muitos questionamentos. Desde fazer uma especialização na área escolhida, o que por si só dá margem a muitas ampliações, até os conflitos que experimentamos ao querer (e precisar) combinar estudo/profissão/casamento.
Nesses momentos de grandes escolhas, quando temos que deixar nossa fase "adolescente" (que, em termos, só termina aos 21 anos) para assumir compromissos (com a carreira, com as notas, com as perspectivas) é muito comum os sonhos com predadores, como você deve ter visto no meu blog. São mudanças importantes de estágio de vida e elas mexem com nosso predador interno, aquelas forças contrárias e inconscientes que nos sabotam. Tipo aquelas perguntas que fatalmente nos fazemos: será que estou no caminho certo? vou conseguir fazer uma pós? vou me casar? se eu sair de casa (para estudar, para casar, para viajar pra fora do país) quem ficará com minha mãe, minha irmã.... Sonhadora, estou só imaginando o que podem ser seus questionamentos, pois é você poderá fazê-los com assertividade. Portanto, o predador (o taxista aproveitador) se manifesta, nos aborda no escuro (é madrugada no seu sonho, é o inconsciente, o lugar que não enxergamos) e atrasa nosso caminhar (o táxi quebra e é preciso encontrar outro).
Lutamos constantemente contra nossos predadores (mesmo ele não conseguindo seguir adiante com o táxi, veja que ele disputa com você um outro táxi), sejam eles internos, sejam eles externos. Quando os identificamos, fica mais fácil lidar com eles. Quando não, eles podem perturbar nossa vida e via de regra o fazem. Nos processos de auto sabotagem em que nos colocamos ao longo da vida, certamente tem um predador atuando.
E se você vive esse momento, com tudo isso que alinhavei acima, é natural também o sonho com os dentes caindo, mostrando uma estrutura "abalada", a falta de firmeza, a consciência de que estar na vida é tomar parte de um grande jogo (o tal campeonato de um esporte que não existe... ele só existe dentro de nós e cobra nosso esforço, reflexos, empenho), a insegurança quando ao nosso poder como mulher (ficar puta porque o namorado conversa com outra mulher), o momento de perder a dentição (fazendo uma analogia com os dentes de leite, deixar de ser criança, nascer como mulher, desabrochar) para nascer a dentição permanente. Ou seja, amadurecer, ficar "mais velha", mudar de estágio, psicológico, físico, social. E nesse contexto, claro que entrará no jogo invisível ou que não existe concretamente. Não existe porque não enxergamos o jogo da disputa que se estabelece desde que entramos na vida. E precisamos nos esforçar muito, precisamos ser atletas para dar conta de tanta solicitação, para nos sustentarmos e nos equilibramos em meio a essas marés que por vezes nos levam no sentido contrário.
Não sei se respondi um pouco à sua inquietação, mas é o que é possível sem conhecer você e sem estarmos frente a frente para ampliarmos melhor seus conteúdos simbólicos.
Abraço.
Vera

sábado, 6 de novembro de 2010

Um farol a nos guiar


Há muitos anos, mais precisamente em 1998, estava eu vivendo um dos meus processos terapêuticos, e levei para a sessão um sonho que jamais esqueci. No sonho, resumidamente, estou deitada no chão de uma área que parece um parque meio abandonado, coberta com uma manta já bastante gasta. Há uma árvore imensa e no alto há um macaco. Ele é grande, está imponente na árvore, me olha muito sério, tem uma cabeça altiva, dourada. E eu apenas olho, sem sentir medo, mas sem fazer qualquer movimento. Na sessão, consegui identificar todas aquelas qualidades do macaco, mas custei muito a trazê-las para mim, para associá-las. E perguntei então o que eu teria que fazer para integrar aquela altivez, aquela beleza, aquela cabeça luminosa, aquele poder? E a terapeuta me perguntou: você pelo menos se levantou do chão?

A este sonho seguiram-se mais dois muito significativos. Em um, estou em um lugar que parece o cais do porto, com muitas linhas férreas no chão. Estou em pé, com um cobertor que não está em farrapos, e pergunto a um menino que aparece: para onde eu vou? E no sonho que fecha esta sequência, estou usando um conjunto de saia e blazer, vestida com elegância, carrego algumas pastas de documentos nas mãos e subo uma escadaria como de um prédio público. Entro então em um salão como esses de convenção, lotado de pessoas, e na mesa de trabalho há um lugar vago e indicam-me que devo me sentar ali. Sento e só então olho a pessoa que está ao meu lado. Era o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Esta sequência de sonhos aconteceu no primeiro semestre de 1998, quando minha vida em Santos seguia normalmente, trabalhando como assessora de imprensa há mais de três anos em uma empresa privada. Ou seja, aparentemente, nenhum vento novo à vista, mas o mês de setembro daquele ano me encontrou desembarcando em Brasília, exatamente quando FHC começava seu segundo mandato. E na Capital Federal fiquei por sete anos, fazendo assessoria de imprensa em três ministérios!

Vi algo assim se repetir agora, com uma das sonhadoras do meu cenário. Mulher empreendedora, dinâmica, 45 anos, e vivendo um momento de grandes decisões profissionais. E ela então sonha com um leão que a observa atentamente. Ela está entre o leão e um precipício. Embora o animal não pareça ameaçador, a sonhadora pensa que se ele andar na direçao dela, o melhor será saltar por cima do precipício porque ela tem certeza que alcança o outro lado. Perguntei a ela quais são as qualidades de um leão e ela enumerou desde ele ser o rei da floresta até ser o Sol no zodíaco, regente do signo de leão. Não fosse a sonhadora uma leonina...

Assim como eu me apropriei das (minhas) qualidades que reconheci naquele macaco, também esta sonhadora assumiu o seu leão em vez de saltar sobre o precipício. Ilusão do ego achar que pode pular um precipício sem se esborrachar embaixo. Encheu-se do seu brilho, da sua força e das suas garras, ouviu o chamado instintivo e foi à luta, negociar os novos passos da sua carreira empreendedora. Para tanto, ela terá que mexer muito na sua vida, na sua rotina, até mesmo mudar de casa. Assim como eu também fiz uma revolução para assumir meu novo tempo longe da terra natal.

Tudo isso para dizer que nossos sonhos nos preparam para sermos protagonistas da nossa história e não espectadores de um roteiro cujo sucesso colocamos nas mãos do outro. Nossos sonhos vêm e nos mostram, simbolicamente, aquilo que não estamos enxergando em nós. De bom e de ruim, de bonito e de feio, de luminoso e de sombrio. Nesses exemplos acima, nem eu e nem a sonhadora conseguíamos enxergar qualidades das quais precisávamos nos apropriar, integrar, para poder dar o grande salto. Nossos sonhos foram esse farol a nos guiar.

sábado, 26 de junho de 2010

Ainda os dentes e a resposta ao sonhador


Entre os vários comentários sobre o assunto dentes, escolhi um porque ele conta uma história, detalhe importante para que possamos ajudar o sonhador a ampliar sua viagem onírica. É de um rapaz de Fortaleza, de 22 anos, e vou transcrever a narrativa dele e, a seguir, a minha resposta:
O SONHADOR
Frequentemente sonho com meus dentes inicialmente moles em minha boca, a ponto de temer falar para que não caiam, até que não suporto mais e os cuspo. Não me lembro de nenhum dos sonhos onde todos os dentes caem, mas me lembro de um onde só fiquei com dois. No último, estava na casa de meus avós paternos, visitando-os. Conversando com meus tios e tias, meus dentes começaram a amolecer de tal forma que sentia que se desse uma palavra, ficaria completamente banguela. Conferia com a língua o estado deles e absolutamente todos ameaçavam cair. Corri para o banheiro e os cuspi. Aparentemente não sangrava, mas saiam umas bolinhas pretas como que pingos, mas não se dissolviam na água da torneira.
Levantei o rosto e me olhei no espelho. Observei meu rosto deformado pela ausência de dentes. Antes do desespero, me senti aliviado por não ter perdido todos, apenas o da frente. Pensei numa solução: vou colocar uma prótese. Nesse momento bateu um desespero e saí correndo até em casa, onde minha tia e avó materna estavam com minha mãe. No banheiro, me observo de novo e choro desesperado. Minha tia vai passando pelo corredor em frente ao banheiro e a chamo com um grito. Peço que veja o que aconteceu e, quando olhamos novamente para o espelho, meus dentes estavam de volta. Estranhamente me senti como se estivesse acordado de um sonho ou ilusão.
Havia algo importante, mas não me lembro o contexto: alguém estava de mudança em um navio de madeira, como os de antigamente. Tenho leve lembrança que eu iria nesse navio, mas não sei se era eu quem estava se mudando.


A RESPOSTA
A angústia é natural, porque queremos entender o sonho, que é totalmente simbólico, com a compreensão do ego, que é limitada e imediatista. Para ampliar seu sonho com mais elementos, seria fundamental conhecer você um pouco mais, e saber como é sua relação familiar, especialmente com as mulheres da sua família, pois em um ponto da sua narrativa você fala de mãe, tia e avó. Muito importante seria saber um pouco mais sobre a sua relação com o FEMININO. Entenda que FEMININO não é apenas a mulher, mas tudo o que nos fala do feminino: a emoção, o sentimento, a sensibilidade, a intuição, a flexibilidade. O feminino é muito mais que uma questão de gênero e às vezes pode ser bastante difícil para um homem entender a dimensão desse arquétipo.

Então (vou falar em cima de hipóteses, claro, e você terá que sentir onde alguma coisa se encaixa na sua realidade), digamos que o feminino na sua vida, representado por essas mulheres que aparecem no seu sonho, seja muito forte, tenha um peso (valor) muito grande na sua vida. Digamos que a opinião/julgamento/avaliação/crítica (amplie você mesmo essas possibilidades) desse feminino forte tenha influência em sua vida A PONTO DE MEXER COM SUAS DECISÕES, SUAS ESCOLHAS. Digamos que você gostaria de desenvolver novos projetos de vida, sair (inclusive fisicamente) em busca de novos horizontes, conhecer mais de você mesmo, da sua criatividade, da sua ousadia... e não consegue, sente-se preso a dinâmicas que, tudo indica, não são conscientes.

Podemos ainda pensar sobre o papel forte que essa linhagem de mulheres tem na sua vida. Digamos que é nesse núcleo que você se sente seguro e que ao se iniciar dentro de você um movimento de libertação (o navio de madeira), a sua estrutura fica abalada (os dentes que caem). E perceba que em um ponto do seu relato, ao se ver sem dentes VOCÊ VOLTA PARA CASA, ONDE ESTÃO A MÃE, A TIA E A AVÓ... e você só volta a ter dentes na boca quando a tia olha no espelho com você. Parece-me que a sua autoconfiança e segurança vêm deste núcleo, como se você ainda não tivesse desenvolvido totalmente, na esfera psíquica, todo o seu masculino. Se assim for, poderá ter dificuldade nas demais áreas da sua vida, como você mesmo descreve... profissão, família, relacionamento. É como se sua estrutura básica não estivesse completa e você não se sente seguro para estar no mundo, para mostrar a sua cara, para enxergar-se (olhar-se no espelho), para desempenhar seus papéis.

Um indício positivo do seu sonho é a mudança que alguém vai fazer de navio. Certamente este "alguém" é um aspecto seu, forte e seguro (a madeira), sólido (como os navios de antigamente, que desbravavam os mares com guerreiros corajosos e destemidos) e pronto para partir. Mas parece que esses valores (que são seus) ainda estão distantes da consciência, já que vc não se lembra com nitidez do sonho e esse símbolo aparece no final do sonho. Apegue-se a esse "anúncio" do inconsciente. Ele está lhe dizendo que é possível mudar, ir em busca de novos horizontes.

Os dentes renderam muuuuuitooo!

Nenhum post suscitou, até hoje, tantos comentários (e inquietações) quanto esse sobre dentes caindo. Pessoas angustiadas, assustadas até, associando o conteúdo do sonho à própria morte ou de pessoas próximas e queridas. Na medida do possível, respondi a quase 100% dos questionamentos, e parece que o meu retorno ajudou a acalmar a ansiedade e o medo nessas pessoas, pois não voltaram aos e-mails para contraargumentar ou levantar outros questionamentos.
Do que pude perceber daqueles que responderam às minhas colocações, todos, sem exceção, estavam passando por um momento de definições na vida. Fosse no campo afetivo amoroso, fosse na experiência profissional ou até mesmo de escolha de carreira, todos estavam dentro do conflito natural quando se tem que tomar rumos na vida. Pessoas que deveriam agradecer por terem recebido, do inconsciente, aquilo que chamo de pistas, as mensagens simbólicas que podem ajudá-las a seguir na direção das melhores escolhas.
Claro que nem tudo se resolve com um único sonho, mas um sonho pode abrir caminho (e normalmente é assim que acontece) para que outros se sigam àquele que detonou a inquietação, a curiosidade, a estranheza quanto ao "recado" do mundo interno. Por isso, considerem sempre um sonho, façam dele um mensageiro fiel, ainda que falando uma língua que, em princípio, a gente custe muito a entender.