terça-feira, 7 de outubro de 2008

O filho nasceu e também é seu

Como analisar (ampliar e interpretar são outros termos usados para o mesmo fim) um sonho quando não se tem conhecimento da linguagem específica? Não há uma resposta única que atenda uma pergunta de tamanho porte, pois ela envolve o conhecimento do complexo simbolismo que brota do inconsciente. Mas podemos (e devemos!) prestar atenção ao sonho, cuidar dele como algo que sabemos ser precioso (e é!), mesmo sem ter idéia de quanto vale.
Comece anotando seu sonho. Tenha um caderno para isso e escreva com a riqueza de detalhes que puder identificar, relate depois as impressões que aquela vivência deixou em você (tristeza? raiva? medo? serenidade?), pois esta é uma ferramenta eficaz para fazer você “voltar” ao mundo interno e pescar nesse imensurável rio que é o inconsciente aquela cena mais marcante, aquela situação mais desconcertante...
Feito isso, conte seu sonho a alguém que o ouça com respeito. Mesmo que esse ouvinte não tenha nada para dizer sobre a sua narrativa, por não saber opinar ou por não entender nada mesmo, ele terá dedicado a você um tempo, terá acolhido sua inquietação ou seu deslumbramento. E o inconsciente “saberá” que você se importou com a historinha que ele lhe contou. E mais: que você, do seu jeito, respondeu àquela tal cartinha que ele se ocupou em escrever especialmente para você.
Com essa breve orientação – mas deixando claro que um sonho não se esgota em uma única ampliação – você pode agora acompanhar-me naquela “viagem” que fiz para Londres, na madrugada que antecedeu o nascimento desse texto. A cena do sonho abre com uma rua de Londres, onde estou junto com outras pessoas, inclusive meu filho. Estamos na expectativa porque Dani, minha nora, vai dar à luz. Não há tensão; apenas uma espera para algo que vai acontecer.
Eis uma situação que o inconsciente está propondo, e para entender melhor o sonho é fundamental que o aproximemos (ou ampliemos) da nossa própria realidade. A minha, naqueles dias que antecederam o sonho, era colocar no ar um texto sobre o assunto. Um tema que vivencio, que estudo, que leio e, acima de tudo, que acredito, mas que nunca tinha sido alvo para um trabalho que se propõe a ser rotineiro e exposto à compreensão externa.
Então, ao aproximar o sonho do meu momento, a associação que faço com Londres, uma cidade no estrangeiro, é que embora eu a conheça no mundo concreto, ela não está no contexto da minha realidade cotidiana, não tenho com Londres uma intimidade, não é por ela que eu circulo. Neste território ainda novo para a minha consciência (Londres é o símbolo para algo desconhecido = blog sobre sonhos), um nascimento vai acontecer.
Enquanto se aguarda esse desfecho, vejo uma mulher que canta e penso que eu teria mais sucesso do que ela porque cantaria música brasileira. Ou seja, se eu “cantar”, se eu expressar minha habilidade de forma genuína (escrever sobre algo que conheço), terei sucesso, vou agradar! Quando admito para mim mesma uma autoconfiança em minha habilidade ou talento, vem o chamado que anuncia o nascimento.
Para atingir o andar de cima desse ambiente desconhecido, e acompanhar a Dani no momento do parto, eu me espremo por uma passagem muita estreita, que neste momento de reflexão (acordada) associo com um “canal de parto”. Eu mesma no esforço de atingir uma nova camada da consciência, eu mesma nascendo para uma nova tarefa do ser. Perceba que sequer o pai da criança é chamado, porque este é um trabalho do feminino. Gestar e fazer nascer são tarefas do feminino e para lá me encaminho.
Eu (ego onírico) e Dani, ela representando um aspecto meu jovem e fértil, e que na vida concreta se fez filha do meu amor, estamos agora juntas e posso participar do nascimento em curso. Ao acolher seu corpo e “acalmar” sua barriga, estou inteira receptiva ao acontecimento que está prestes a marcar profundamente a minha vida, pois mesmo num sonho, ajudar um ser a nascer é extremamente mobilizador e por isso, certamente, desperto tão emocionada. No mundo concreto, eu estava pronta para “parir” um texto sobre sonhos e dá-lo a você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Veroca, Parabéns pelo blog!
Ta a sua cara, lindinho...
Muito mais sucesso na sua vida, pq vc merece!!!
Beijos Ná Karaoglan