quarta-feira, 1 de abril de 2009

Em Jogo de Cena, os sonhos também são estrelas



Além da minha paixão por sonhos, por nadar, por cozinhar e outras que não cabem neste blog, também sou louca por cinema. Não chego ao ponto de ver certas coisas trash que andam por aí, mas não perco nem mesmo os filmes iranianos, que para muitos é um sonífero e para mim é uma viagem à beleza plástica e a uma certa inocência perdida.

Tudo isso para dizer que dia desses peguei Jogo de Cena, mais um belo trabalho desse grande cineasta que é Eduardo Coutinho (Edifício Master, lembram?), e mergulhei nas histórias daquelas mulheres fantásticas, porque humanas, reais, espelhos. Sob a lente crua de Coutinho, elas vão contando suas histórias povoadas de filhos, maridos, pais... e sonhos. Pelo menos quatro delas, se bem me lembro, falam de sonhos que determinaram mudanças nas suas vidas.

Eu, já emocionada pelos relatos simples e pungentes daquelas deusas de carne, osso, batom e brincos, fiquei ainda mais tocada quando, em algum momento daquela narrativa, ouvi... “e aí eu tive um sonho”. Confesso que me remexia no sofá, ansiosa e em reverência ante um oráculo prestes a se revelar. E confirmava, então, o quanto um sonho pode nos colocar em outra posição diante dos fatos que a vida, do seu jeito, tornou irreversíveis.

Uma dessas mulheres abre sua dor pela morte trágica de um filho jovem, que a fez fechar-se em luto por cinco anos, cerrando simbolicamente as janelas da casa. Com pausas longas e olhares cheios de silêncio, ela fala das janelas fechadas e acende um brilho nos olhos quando diz... “e aí eu tive um sonho... meu filho aparecia com uma coroa na cabeça, vestido com um roupão azul, e me dizia: mãe, eu estou bem...” e seguia a partilhar as imagens restauradoras, até concluir: “então, depois desse sonho eu pude abrir as janelas e retomar minha vida”.

Tenho cerca de mil sonhos anotados nos meus cadernos de capas já gastas, outros que descubro quando vou buscar uma agenda antiga ou um bloco de anotações que é a ferramenta de qualquer jornalista... Lá estão eles, contando histórias que hoje até já se resolveram na minha vida, mas ali permanecem, como testemunhas daquela que fui e sou, transformada certamente com a ajuda de sonhos que me ajudaram a abrir janelas. Olhemos pelas janelas sempre abertas do mundo interno e prestemos atenção ao que se descortina neste cenário ímpar, porque lá pode estar a resposta aos enigmas que a vida nos apresenta.

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